Gotas de sabedoria do auto-proclamado enfant terrible da intelligentzia nacional

quarta-feira, dezembro 26, 2007

publicado em 28/6/2005 no meu outro blog

vivendo e aprendendo

O primeiro episódio da segunda edição da versão nacional do programa "O Aprendiz" , estrelado por Roberto Justus , foi ao ar na semana passada, na Rede Record e no People and Arts. Parte-se do princípio que todos os 16 candidatos ao grande prêmio - um um emprego de R$ 250.000,00 por ano - são profissionais altamente qualificados e aptos a desempenhar um bom papel enquanto enfrentam as tarefas impostas pela direção do reality show. Não foi essa a impressão que deixaram após a estréia de "O Aprendiz 2".
As baboseiras começaram cedo , quando os dois grupos formados tiveram que escolher um nome para as respectivas equipes. No grupo dos homens , um participante chamou a responsabilidade para si e se prontificou a catequizar os coleguinhas com um dos mantras preferidos daqueles que dominam noções básicas de marketing. Trata-se de um mandamento que sustenta a idéia de que "o nome da marca tem que ser curto e fácil de ser lembrado em qualquer idioma". Os bons cordeirinhos seguiram o princípio , como se isso por si só bastasse para que todos os nomes enquadrados na regra fossem bons. Numa demonstração de falta de criatividade ,optaram por V-8 , nome tão curto quanto pobre. Hoje em dia , qualquer grupo de amigos que monta um escritório de design ou de publicidade , faz uso dessa técnica : juntam as iniciais dos nomes dos fundadores e botam um número no fim. Temos uma avalanche de RM5 , BP2 , SSN3 , 4T e outras sopas de letrinha. O campeonato alagoano de futebol , célebre por causa dos clubes CSA , CRB e ASA , perde de goleada .
Não há problema nenhum no fundamento defendido pelos marketeiros , o que incomoda é a fé cega das pessoas em segui-lo, ignorando o bom senso e a originalidade na escolha dos nomes das empresas e marcas. Se todos no mundo fossem iguais aos rapazes do V-8 , não conheceríamos a Vale do Rio Doce , a Matsushita e a Pricewaterhouse. Mas nem todos são iguais a eles , há os que conseguem ser piores. O time das mulheres , por exemplo , tirou da cartola o nome Mandala. Se nomes exalassem cheiro, esse federia a mofo. Além de ser uma palavra já muito manjada, mandala ainda tem o agravante de ser associada a um outro reality show recente da TV brasileira , o No Limite , da concorrente Globo. Edir Macedo e cia devem ter adorado a surpresinha.
Depois dos nomes , veio a escolha dos líderes dos grupos (no das mulheres, ninguém quis o cargo, o que gerou graves críticas mais tarde) e o desafio : vender, em pouco mais de um dia, a carga de um caminhão repleto de papel higiênico , papel toalha e guardanapos. A edição de imagens não foi das mais coerentes , mas deu para ver que o grupo dos homens conseguiu se organizar precariamente até conseguir vender toda a carga para um distribuidor, enquanto o das mulheres chafurdava numa lama de caos e desencontros. As oito aspirantes a um cargo prestigiado deram vários tiros n'água , chegaram a um ponto em que a estratégia mais bem sucedida foi a de vender a mercadoria informalmente, no meio da calçada mesmo , ao melhor estilo "feira ao ar livre". Em outras palavras, as mandaletes, enfiadas em terninhos, fluentes em línguas estrangeiras e portadoras de diplomas de MBAs, se tornaram camelôs por um dia. Teve até direito a rapa da polícia , numa patética cena que deveria ser eternizada na internet, a exemplo da entrevista da doutora Ruth "sanduiche-iche" Lemos.
Após tudo isso , posso afirmar que "O Aprendiz 2" tem tudo para ser um ótimo entretenimento. Os personagens parecem ter a capacidade de deseducar os espectadores que buscam no programa um conhecimento mais amplo "do mundo dos negócios" , a começar pelas vestimentas - o líder do V-8 não tirava um imenso óculos escuros que o deixava com pinta de capanga de cafetão de Miami -. A presença robocopiana de Roberto Justus também merece destaque, aí está alguém que consegue apresentar menos expressões faciais do que eu. Ouso dizer que ele absorveu quantidades cavalares de botox , por osmose , na época em que namorava a apresentadora infantil Eliana. Que venha o segundo episídio.