Gotas de sabedoria do auto-proclamado enfant terrible da intelligentzia nacional

quinta-feira, janeiro 25, 2007

filmes

Anunciaram os indicados ao Oscar de 2007.

E, para tirar a poeira do blog, vou aproveitar para escrever uns comentários rápidos, pouco informativos e impacientes a respeito de alguns filmes que vi nas últimas semanas. Quem quiser mais informações que vá ao Wikipedia.

Munique - Já tinha visto no cinema e aluguei o DVD para rever. Para mim é um dos melhores filmes de ação dos últimos anos. Não tem trilha sonora barulhenta para encher o saco, o tema é relevante, diálogos bem escritos e cenas tensas. Gosto do estilo visual adotado. Nota 8.5/10

Miami Vice - A cena inicial se passa numa boite, ao som de Limp Bizkit, o que é um mau presságio. Escalar a chinesa Gong Li para intepretar uma personagem cubana é forçar a barra. O mico aumenta ainda mais quando vemos Colin Farrell no papel principal, em atuação constrangedora. Não dá para entender a insistência em vender esse drogado sacana como estrela ascendente de Hollywood. Em Miami Vice , ele mostra uma capacidade de atuar semelhante a de um figurante do humorístico Hermes e Renato. O roteiro é confuso, os personagens não se desenvolvem, Jamie "Ray Charles" Foxx parece dormir em todas as cenas que participa. Alguns tiroteios e a estética das cenas noturnas se salvam. O diretor Michael Mann foi muito mais feliz em Colateral. Miami Vice é um filme brega, passado em uma cidade brega. Nota 4/10

Match Point - Nunca tive saco para correr atrás da vasta filmografia do Woody Allen, mas gosto dos filmes dele. Aluguei Match Point em junho do ano passado, mas não vi na ocasião por causa das comparações com o livro Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski, que eu estava terminando de ler. Fiquei com medo do filme revelar surpresas da trama do clássico russo e copiei o DVD para o PC, para assistir mais tarde.
Antes de ver o filme, eu desconfiava desses prêmios de "mais sexy do mundo" que a Scarlett Johansson parecia ganhar uma vez por semana nos últimos tempos. Na minha mente ela ainda era apenas a chubby charmosinha do excelente Encontros e Desencontros. Agora, assino embaixo de todos eles. Scarlett é que é mulher de verdade. Que sejam abençoados para sempre as gordurinhas e os pneuzinhos cultivados pela atriz, bem como os cheeseburgeres e milk-shakes consumidos por ela.
Quanto ao filme, trata-se de uma gota de inteligência no oceano de baboseiras que é a indústria cinematográfica. Nota 9/10

Capote - Do alto do meu status de legítimo herdeiro do legado deixado pelos grandes baluartes do New Journalism, devo confessar que não li A Sangue Frio, do Truman Capote, tampouco me informei sobre as extravagâncias da vida pessoal do escritor. Vi o filme na condição de ignorante, sem poder questionar se o que se passava na tela era fiel ao que havia conhecido. Reza a lenda que o Capote, quando visitava o amiguinho homicida na cadeia, tinha o hábito de brincar de boneca, coisa que o filme não mostra em nenhum momento. Independente de ser fiel ou não aos fatos, Capote é um bom entretenimento, ancorado na performance de Philip Seymour Hoffman, que incorpora com maestria o caricato autor de Bonequinha de Luxo. Nota 8/10 .

Borat - Apesar de não ter estreado nos cinemas brasileiros, Borat tem causado um burburinho por aqui. Fiquei curioso e cometi esse crime muito comum no mundo de hoje, que é o ato de baixar filmes na internet. Borat é original, bem concebido e executado. A "pegadinha" com o público, que não sabe quais partes foram encenadas e quais foram filmadas com base no improviso do ator Sacha Baron Cohen é um trunfo. Os mais ingênuos acreditam que todas as cenas em que Borat interage com americanos são reais, sem armação. O personagem-título é um achado, logo será herói daquela turma preguiçosa de esquerdistas universitários que culpam os EUA por tudo o que há de errado no planeta Terra.
Ver filme sozinho no computador é uma má idéia, pior ainda quando se trata de uma comédia escrachada. Uma telinha do Windows Media Player e um fone de ouvido tiram o impacto de piadas que, em um cinema, viriam acompanhadas de gargalhadas e urros de uma platéia entusiasmada. Nota 8/10

Infiltrados - Quando vi no cinema, estava achando que era um filme policial acima da média, com muitos rostos conhecidos, Jack Nicholson na pele de um fanfarrão pela enésima vez, um roteiro inverossímil e sem nenhuma grande novidade. Aí vem o final violento e inesperado, que o Martin Scorcese deve ter tirado da cartola (ou não, já que Os Infiltrados é remake de um filme de Hong-Kong ) já imaginando que seria o suficiente para ser chamado de gênio por nove entre dez cinéfilos bundas-suadas que infestam os segundos-cadernos dos jornais mundo afora assinando as críticas de filmes. É bom, mas não merece tanta pompa. Nota 8/10

Diamante de Sangue - Filme em crise de identidade, que podia ser bem melhor. Por vezes é um drama engajado em denunciar o banho de sangue promovido na África para atender causas capitalistas. Em outras, é uma aventura à moda antiga, com correria, perseguições, vilões estereotipados e desfecho previsível. No meio disso, Leonardo di Caprio querendo provar mais uma vez que saiu da puberdade e que é capaz de interpretar um homenzinho e o beninense Djimon Hounsou roubando a maioria das cenas na pele do digno Solomon Vandy. O ator foi destaque em Amistad fazendo Cinqué, o líder dos escravos rebeldes do barco negreiro que vai parar nos EUA. Anos depois, era Juba, o escravo camarada de Maximus em O Gladiador. Em Diamante de Sangue é um pescador que acaba virando escravo em uma parte. Como constatamos, escravo do jet set, com serviços prestados na América do Norte, Europa e África. Dos filmes grandes que vi com a participação dele, só não foi escravo no lixão Constantine, onde faz uma espécie de pai-de-santo com superpoderes (!!!). Sacanagem com o cara, que é bom ator. Só porque é negro, forte e africano, está condenado a pegar esses papéis de escravo pelo resto da vida. Se resolver aprender português, pode sair dessa e sonhar em conseguir uma ponta no núcleo suburbano da próxima novela do Manoel Carlos. A triste realidade é que se ele de fato dominar o nosso idioma, vai ser imediatamente o favorito para dar vida a Zumbi dos Palmares, seja em uma minissérie global, em um filme de um Cacá Diegues qualquer ou, hipótese mais provável de todas, no topo de um carro alegórico a cruzar a Marquês de Sapucaí. Nota 7/10

Obrigado por Fumar - Comédia metida a ser afiada e espertinha, mas que requenta demais as mesmas piadas. Podia partir com mais força para o cinismo e a malícia. O subplot com o filho do protagonista é bem babaquice de americano, o filme fica com um jeitão de seriado bocó em vários momentos. Nota 6.5/10

Casino Royale - O novo Bond é meio esquisito, feião, vive fazendo um biquinho com a boca, tem físico de micareteiro da Barra da Tijuca, mas tá bem no papel.
As inserções de product placement da Sony constrangem, fazem do filme uma grande peça publicitária da empresa. Telefone, laptop, câmera fotográfica, televisão, dvd-r, só dá Sony. Podiam mudar o nome para CaSony Royale.
Depois de mostrar a raposinha naquele marasmo que é Os Sonhadores, a Eva Green alcançou um patamar de musa cult, preferida da cambada que usa óculos de aro grosso e camisas listradas. Bonita, ela é, mas não tem nível (nem bunda) para ficar bancando a gostosona e sex symbol em todos os filmes que participa. O formato do crânio dela é estranho, há algo daqueles ETs de Marte Ataca! na cabeça da moça.
A perseguição inicial tá mais para X-Men do que 007, até para os padrões da série tá exagerada. No mínimo o Bond estragava os dois meniscos depois daqueles saltos. Com aquelas habilidades, o bandido que enfrenta o agente seria o maior atleta da história das Olimpíadas se largasse o crime para virar esportista.
A mudança em relação aos últimos filmes foi boa, antes tava uma palhaçada do início ao fim. O aspecto mais sombrio do Casino Royale dá fôlego ao personagem.
O melhor momento disparado é quando a Alessandra Ambrósio aparece com uniforme de tenista, se não me engano em um saguão de hotel. Dura uns dois segundos, que olhos bem treinados como o meu nunca deixariam de notar. Nota 7/10

Lawrence da Arabia - Pus o DVD sem grandes pretensões, quando almoçava sozinho em casa em um domingo chuvoso e acabei vendo tudo de novo. Deve ter sido a décima vez que vi. Épico de verdade, que não é mais feito nos dias de hoje, onde a indústria se vê refém do mercadão dos adolescentes incultos, que só querem consumir porcarias repletas de diálogos escritos por macacos, efeitos especiais gerados por computador cada vez mais sem graças e trilhas sonoras esporrentas. Nota 11/10