Vi um cartaz na rua que anuncia um evento chamado
Arraiá do Rio , a ser realizado no próximo final de semana, na Marina da Glória . As atrações principais de sexta são Jorge Ben Jor e Moraes Moreira . Sábado , a animação fica por conta de Alceu Valença e Eletrosamba. As escolhas são curiosas.
Não sei como as pessoas ainda tem a cara de pau de usar o Jorge Ben Jor como chamariz desses eventos do tipo festa + shows. Entra ano , sai ano , o Zé Pretinho segue repetindo aqueles sucessos manjados , sem mudar muita coisa. Não haveria problema se ele fizesse umas apresentações esporádicas , mas tenho certeza que ele voltará com tudo no próximo verão , encabeçando dezenas de eventos parecidos, em parceria com Monobloco , bateria de alguma escola de samba qualquer e outros representantes menos cotados da pobre "cena" musical carioca. Até os fãs mais fervorosos do Jorge devem ter estranhado esse negócio dele cantar em um arraiá , uma festa que não combina com a obra musical dele. Os organizadores devem ter coçado um pouco a cabeça para resolver esse problema de identificação entre a estrela e o tema do evento , mas imagino que a solução encontrada seja algo como " vamos dar uma camisa xadrez e um chapéu de palha para o negão , que fica tudo beleza ! ".
Se o Jorge Ben goza de prestígio o suficiente para atrair multidões para essas festas , não podemos dizer o mesmo de um de seus primos pobres , o Eletrosamba. Presença onipresente na noite carioca , esse grupo ( ? ) é , para mim , um enigma. Eles sempre aparecem como tapa-buraco de festas , boites e shows de médio e grande porte voltados para a juventude carioca. Apesar disso , não lembro de ninguém que se diz fã da banda , nunca vi clipe deles na TV , música nas rádios , disco nas lojas, nem saberia reconhecer os músicos . Para dizer a verdade , eu nem sei o que diabos o Eletrosamba faz. Já estive em eventos em que eles tocaram , mas não tenho memórias da apresentação deles. Ou o grupo estava escondido em algum palco paralelo , afastado do principal , ou se prestava a realizar a inglória tarefa de fechar a festa (leia-se: expulsar os últimos bêbados que não se tocavam que era hora de ir embora). Parabenizo-os pela persistência , mesmo sem saber se são bons ou ruins - acho que morrerei de velhice antes de ter a oportunidade de sanar essa dúvida - .
Para completar o line-up do Arraiá do Rio , os organizadores escalaram dois nomes mais familiarizados com festas juninas: Moraes Valença e Alceu Moreira , ou vice-versa , tanto faz. A cada cem pessoas , apenas umas cinco devem saber qual é a diferença entre esses dois. Para o grande público , não há muita variação entre veteranos cantores nordestinos cabeludos. Se o evento durasse três dias , dariam um jeito de botar o Lenine no terceiro. Aposto minha alma nisso.
Ps: Como se sabe , esse tipo de festa sempre abriga umas barraquinhas de comidas típicas, que irão propiciar incontáveis repetições da seguinte cena:
1 - Gatinha faminta compra um salsichão para aplacar a fome.
2 - Depois de dar alguns passos abocanhando o fálico e robusto alimento , é abordada por um marombeiro tatuado, que balbucia gracejos deselegantes, com referências ao gosto alimentar da mocinha.
3 - A boneca , ferida pela barbárie masculina, procura um cantinho e , contendo as lágrimas, devora o que resta do salsichão.